Blog do Muca #05 - Da Lama ao Caos do Caos a Lama

um dia desses procurando algo bom pra assistir no youtube me deparei com um vídeo cujo título era algo como: “como é ter uma vida normal? (sou feliz o tempo todo?)” fiquei com isso na cabeça e percebi que minha geração parece ter perdido um pouco o senso de realidade. como é possível que alguém entre nesse vídeo? 99,9% das pessoas tem uma vida normal. todos sabemos que não dá pra ser feliz o tempo todo. é engraçado, parece que por crescermos com tanta tecnologia, com tantas coisas que não tem sentimentos ou emoções, acabamos ficando iguais.

esse tipo de conteúdo, reafirmando que “its okay not to be okay” (está tudo bem não estar bem) virou uma febre. conteúdo esse que só fala o óbvio: a vida não é igual o que postamos nas redes sociais. todos sabem disso, mas parece que ninguém acredita de verdade nessa máxima. a explosão dos “influencers” fez com que, o que estava ruim, ficasse pior. antes havia um distanciamento da figura pública famosa e da população em geral. hoje em dia parece que todos se sentem figuras públicas famosas, todos parecem se sentir na obrigação de postar, de seguir a última tendência, de comprar a roupa do momento. as relações parecem ter esfriado, os sentimentos ficaram confusos, a vida real parece servir apenas para ser fotografada e transmutada em mais um post no instagram, com a última música que viralizou e uma frase em inglês para servir de legenda. é uma crise geral, estamos sendo forçados a participar disso ou então a convivência com outros parece ficar difícil. fiquei mais ou menos 6 meses sem redes sociais (exceto whatsapp) e minha sensação era que meus amigos e familiares estavam vivendo em outra realidade. notícias fúteis, vídeos inúteis, brincadeiras sem graça, coisas fugazes o tempo todo.

a internet tem o super poder de fazer tudo parecer muito maior do que realmente é, enquanto o que importa é deixado de escanteio. “você viu o p diddy?” “você viu o que o kanye west disse dessa vez?” “ você viu a briga da subcelebridade x com a y?”. frases como essa a gente ouve quase todo dia, a diferença é que, no período sem redes sociais era muito mais fácil perceber que isso não altera em nada minha vida nem a das pessoas próximas a mim. do que importa se as celebridades estão brigando ou falando abobrinhas? acabei desviando um pouco do cerne da questão, que é a crise da geração z. mas é exatamente isso que eu quero dizer: por não viver a vida real, a geração z parece ter esquecido o que sentir e quando sentir. sua grande empolgação é vendo a vida dos outros e esquecendo a sua. é parecer ser algo para os outros sabendo que não é. é imitar o estilo de vida dos outros por não saber como ter o próprio. ou seja, a geração z tem o dom do copia e cola. perdeu o dom de viver e aproveitar os 5 sentidos (o sexto sentido já foi pro vinagre há muitos anos).

a brisa do mar, a água gelada da cachoeira, o barulho das folhas de uma árvore, o calor do sol, nada parece agradar tanto quanto a tela do celular. a hipnose que as telas nos trazem, a total dilatação do tempo, transformando o que deveria ser 15 minutos em 3 horas, é uma epidemia terrível que jamais imaginamos viver. resta agora, além de nos controlarmos, tentar conscientizar a nova geração que vem aí, o que não será nada fácil. há pouco tempo o globo repórter exibiu uma matéria sobre a relação das crianças e o celular, devido a nova lei que proíbe o uso do aparelho nas escolas de todo o país. sintomas como ansiedade e depressão são praxe; o vício nas telas por crianças pequenas também. é difícil resolver o problema para as crianças e adolescentes quando os adultos estão presos no mesmo ciclo vicioso. é patogênico, é terrível, o que será do futuro da humanidade quando não existir mais o SER humano? quando nossos valores forem os mesmos das máquinas? o mundo como conhecemos começou uma mudança radical desde os anos 2000 e segue mudando todos os dias. a nós, cabe aguardar as cenas dos próximos capítulos, enquanto somos “multidão boiada caminhando a esmo”, sem decidirmos nosso próprio futuro, sem tomar as rédeas de nós mesmos, sendo apenas mais um número para os inteligentíssimos algoritmos. a nossa insignificância nunca foi tão esmagadora quanto agora, e nosso ego também não.

a geração z (e as próximas que virão) já vive em dois mundos diferentes ao mesmo tempo: o mundo real e o mundo virtual. muitas atividades são feitas ali, sem sair do canto. pessoas ganham rios de dinheiro jogando jogos online, gravando vídeos curtos de 30 segundos ou até acompanhando meticulosamente a bolsa de valores, tudo sem se mexer. ja é a revolução tecnológica, já é o futuro que tanto ansiávamos mas e agora? como saber usar algo que parece tão superior a nós? a inteligência artificial cumpre determinadas tarefas com muito mais velocidade e precisão que um ser humano. fica portanto a dúvida: que valor nós temos na sociedade agora que já arrumamos um substituto tão perfeito?

stop! a vida parou ou foi a internet?

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